Um boletim técnico elaborado pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância
Sanitária) quantificou pela primeira vez em detalhes o consumo de
drogas vendidas com receita controlada que podem causar dependência.
Os ansiolíticos dominam a lista, que inclui todos os remédios de venda
controlada, como emagrecedores, antidepressivos e anabolizantes.
Os princípios ativos mais consumidos no país entre 2007 e 2010 foram
clonazepam, bromazepan e alprazolam -cujas marcas de referência são,
respectivamente, Rivotril, Lexotan e Frontal.
A partir desse documento, será possível identificar o comportamento de
uso dessas substâncias e eventuais abusos. "É sabido, não só no Brasil,
que muitas vezes se recorre ao medicamento para resolver problemas não
solucionáveis por ele", afirma Dirceu Barbano, diretor-presidente da
Anvisa.
Para ele, o uso de ansiolíticos e antidepressivos tem sido observado em níveis agudos e, talvez, inadequados.
Mais de 10,5 milhões de caixas do clonazepam foram dispensadas em 2010,
segundo informaram 41 mil farmácias cadastradas no Sistema Nacional de
Gerenciamento de Produtos Controlados.
O número é crescente desde 2007, mas é preciso relativizar a tendência,
já que também é crescente o número de farmácias no sistema.
A Vigilância Sanitária estima que o sistema deve ter alcançado quase o
total das farmácias em 2010, o que deverá permitir comparações a partir
de agora.
USO EXAGERADO
"O uso de medicamentos em saúde mental com uma finalidade ansiolítica é
frequente. Tem explicação epidemiológica? Que recado passa?", questiona
Barbano.
O boletim, diz, não se propõe a fazer essas avaliações, mas permite que a
agência, os médicos e a sociedade se debrucem sobre o tema.
Para Elko Perissinotti, vice-diretor do Hospital-Dia do Instituto de
Psiquiatria do Hospital das Clínicas da USP, a venda das drogas está
ligada à dependência do efeito causado por elas, que ele chama de
"bem-estar nocivo".
"Hoje, as pessoas, mesmo sem indicação, tomam um remédio desses à noite
para conseguir dormir. É um desastre. E procuram seus médicos, nem
sempre um psiquiatra, para ter a receita."
Os médicos também têm parte da culpa. "Eles usam um atalho perigoso.
Prescrever esse remédio é cômodo porque o resultado é rápido e sem
efeitos colaterais."
Matéria publicada na Folha em janeiro de 2011 já apontava para o aumento
do consumo dessas substâncias: entre 2006 e 2010, as vendas do
clonazepam cresceram 36%, segundo a IMS Health, que audita o setor.
A Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas avaliou que o boletim
"reforça a relevância das estratégias de controle dos psicofármacos".
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